domingo, 10 de julho de 2011

Nem só de pão vive o homem

Se eu tivesse fome e fosse obrigada a mendigar, não pedia apenas pão. Pediria pão e um livro. É uma questão de lógica que todos os homens tenham alimento, que comam. Melhor ainda se todos pudessem ter acesso ao saber. Bom mesmo seria se todo homem gozasse não só do prazer em alimentar seu corpo físico, a matéria, mas, também seu espírito carente de conhecimento.

Ouve-se, todos os dias, sob holofotes da mídia que direciona os olhos do mundo, falar em mudanças estruturais econômicas. Quando se argumenta em defesa das reivindicações para diminuir as desigualdades sociais, fala-se apenas em poder econômico, sem jamais ressaltar a democratização da cultura, aliás, o que a necessidade humana pede aos gritos. Gritante é essa desigualdade cultural, que transforma suas vítimas em máquinas a serviço do Estado, escravos da organização social onde estão inseridas.

É triste a cena de uma mão estendida à espera pelo pão que não vem. Mais triste ainda, é presenciar manifestações de indivíduos que desejam o saber, mas não o podem. A fome se aplaca com um pão, mas a sede de conhecimento só pode ser sanada diante de livros, muitos livros.

Fiódor Dostoiévski, líder político russo e um dos mestres da literatura universal, na ocasião de sua prisão em uma fortaleza na Sibéria, (onde passou 10 anos enclausurado, sendo obrigado a fazer trabalhos forçados, como lidar com a extração de minérios), fez um estranho pedido em carta a sua família. Seu pedido capta a essência da necessidade humana.

Em meio ao frio, o líder poderia ter pedido fogo para aquecê-lo, mas não o fez. Com sede, não pediu água. “Enviem-me livros, livros, muitos livros, para que minha alma não morra!”, foi o pedido de Dostoiévski.

O pedido de socorro do revolucionário russo era para que lhe abrissem horizontes, escadas para subir ao ápice do espírito e do coração. Ele já havia entendido, na época, o que anos depois o mundo ainda não compreendeu: o desconforto provocado por fome, sede, frio, dura pouco, mas a agonia de uma alma sedente perdura por toda a vida.

Cultura. Esse é o caminho para as mudanças tão almejadas e amplamente discutidas em diversas esferas sociais. Somente através dela pode-se encontrar os mecanismos capazes de solucionar as dificuldades que hoje assolam a humanidade.

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