se filma.
Ele tem tudo para ser um grande cineastra. Pelo menos, cenário para o filme não lhe falta!
Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade (Gabriel García Marquez)
A aldeia Davi, localizada a 20 km do perímetro urbano de Comodoro, será palco da maior festa da região em comemoração ao Dia do Índio.
As atividades serão abertas aos não índios e começam no sábado, 16, às 8 horas, com a abertura dos jogos indígenas. A competição só termina no domingo, às 15 horas, e será realizada na própria aldeia.
Mas, o que mais chama a atenção na programação é a Festa da Menina Moça, que também será aberta para a apreciação dos moradores da cidade que quiserem participar. O ritual tradicional entre os Nambikwara começou ontem quinta-feira, e se encerra com a grande festa pública, a partir das 16 horas do sábado, 16.
“Neste ano, decidimos fazer a festa na aldeia porque assim vamos valorizar a cultura dos povos indígenas em cada detalhe. Eles não terão uma festa ao estilo do não índio, pelo contrário, a festa é organizada por eles, do jeito deles, e nós damos apenas o suporte e seremos os participantes”, afirma a secretária de Educação e Cultura, Edilúcia de Freitas.
Na quinta-feira, a aldeia, povoada por 38 índios Sawantesu, sub-grupo dos Nambikwara, já contava com a presença de mais de 100 índios. Até o sábado serão pelo menos mil que virão das demais aldeias do município. Hoje Comodoro é considerado um dos municípios brasileiros maiores marcas da presença indígena. Além disso, 62% do território do município pertence aos povos Nambikwara.
OS PREPARATIVOS – Na quinta-feira durante a tarde, os moradores da aldeia Davi, em clima de festa, faziam os últimos preparativos para o início do ritual. Animais caçados por eles mesmos estavam já estavam assados e prontos para ser servidos com o biju, feito do polvilho da mandioca. As mulheres trabalhavam arduamente fazendo a Chicha, bebida típica à base do suco de mandioca fermentado, enquanto os homens preparavam as barracas para a festa e as crianças treinavam para os jogos de sábado.
Além da comida típica, preparada pelos próprios índios, a Semec também irá atuar em uma cozinha montada dentro da escola da aldeia, para atender a população que for prestigiar a festa.
“Nós temos o maior respeito e atenção por esse povo que compõe boa parte do nosso município e esperamos que a população prestigie o evento, que além de ser muito bonito, serve para promover a interação entre índios e não índios, moradores de Comodoro”, esclarece o prefeito Marcelo Beduschi, com quem os Nanmbikwara possuem relação de amizade.
O RITUAL – A festa da menina moça é uma tradição milenar, conforme explica o pajé Renê Sawantesu. “Não temos nada escrito, mas passamos de geração a geração através da fala, está tudo guardado na nossa mente e no nosso coração”, afirma. A tradição manda que quando uma menina inicia seu período mestrual, é levada para uma oca, onde permanece por um longo período. Na aldeia Davi, há três meninas que passaram pelo ritual. Há quatro meses elas recebem visita apenas das mulheres da aldeia, que lhes dão instruções para a vida. Passado o período, elas serão apresentadas aos demais da aldeia, agora como mulher. A cerimônia dura três dias.Hoje, talvez mais do que quando compôs, Drummond expressa a realidade brasileira:
ACORDAR, VIVER
Carlos Drummond de Andrade
Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me àquele
reino onde não existe vida
e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia
seguinte, a fábula inconclusa, suportar
a semelhança das coisas ásperas de
amanhã com as coisas ásperas de hoje?
Como proteger-me das feridas que rasga
em mim o acontecimento, qualquer
acontecimento que lembra a Terra e sua
púrpura demente?
E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.