sexta-feira, 15 de abril de 2011

Hoje, talvez mais do que quando compôs, Drummond expressa a realidade brasileira:



ACORDAR, VIVER

Carlos Drummond de Andrade

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me àquele
reino onde não existe vida

e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia
seguinte, a fábula inconclusa, suportar
a semelhança das coisas ásperas de
amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas que rasga
em mim o acontecimento, qualquer
acontecimento que lembra a Terra e sua
púrpura demente?

E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.

Nenhum comentário:

Postar um comentário