Porque o jornalismo é uma paixão insaciável que só se pode digerir e humanizar mediante a confrontação descarnada com a realidade (Gabriel García Marquez)
quinta-feira, 7 de abril de 2011
Meu lado Mulher
Todas nós, mulheres temos um lado homem e outro mulher. Talvez, esse lado homem se aflore mais que o lado mulher. Quem sabe, para disfarçar os dissabores e o peso em "ser mulher". Vemos a nós mesmas, não com os olhos femininos, mas impregnadas de conceitos e paradigmas de um mundo masculino. Na gerra dos sexos existente dentro de nós, qual dos lados tem sido mais bem alimentado? Qual se sobressai? Como bem disse Frei Betto, em reflexão publicada em Caros Amigos: "Meu lado mulher incomoda-se de receber homenagens num dia do ano - 8 de março -, enquanto meu lado homem se farta com 365 dias. Talvez se faça necessária esta efeméride, dor recente de uma cicatriz antiga. Porque vive-se numa sociedade machista: matrimônio - o cuidado do lar; patrimônio - o domínio dos bens. O marido possui a casa, o carro e a mulher, que incorpora ao nome dela o da família dele. A casa, ele exige que se limpe todo dia. O carro, envia à oficina ao menor defeito. À mulher, ser multifacetado, cabe o dever de cuidar de casa, dos filhos, das compras e do bom humor do marido, que nem sempre se lembra de cuidar dela. Meu lado mulher nunca viu o marido gritar com o carro, ameaça-lo ou agredi-lo. Nem sempre, entretanto, ela é tratada com o mesmo respeito. (...) Meu lado mulher tem pavor da violência doméstica; do pai que assedia a filha, jogando-a nas garras da prostituição; do patrão que exige préstimos sexuais da funcionária; do marido que ergue a mão para profamar o ser que deu à luz seus filhos. Diante da TV ou da banca de revistas, meu lado mulher estremece: haja degradação! Ela é a burra, a imbecil que rebola no fundo do palco, expõe-se na casa do brother, associa-se à publicidade de cervejas e carros, como um adereço a mais de consumo. Meu lado mulher tenta resistir ao implacável jogo da descontrução do feminino: tortura do corpo em academias de ginástica; anorexia para manter-se esbelta; vergonha das gorduras, das rugas e da velhice; entrega ao bisturi que amola a carne segundo o gosto da clientela do açougue virtual; o silicone a estufar protuberâncias. E manter a boca fechada, até que haja no mercado um chip transmissor automático de cultura e inteligência, a ser enxertado no cérebro. E engolir antidepressivos para tentar encobrir o buraco no espírito, vazio de sentido, idéias e utopia. Meu lado mulher esforça-se por livrar-se do modelo emancipatório que adota, como paradigma, meu lado homem. Serei ela se ousar não querer ser como ele. Sereia em mares nunca navegados, rumo ao continente feminino, onde as relações de gênero serão de alteridade, porque o diferente não se fará divergente. Aquilo que é só alcançará plenitude em interação com o seu contrário. Como ocorre em todo verdadeiro amor". E viva o Dia Internacional da Mulher!!!
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