Festa, alegria, descontração, fantasias absurdas, gente pelada, bebida à vontade. Carnaval é tudo isso e muito mais. Mas nem todo brasileiro tem esse espírito farrista. Existem aqueles que não compactuam com esse período e decidem burlar, de todas as formas, as tais “tradições carnavalescas” e aproveitar o feriado longe das folias e dos foliões.
Eles não são “doentes do pé” e nem “maus sujeitos”, como diria a célebre - e injusta - canção. Para muitas pessoas, fevereiro é sinônimo de um grande incômodo com a campanha massiva da mídia, que vende a todo momento os carnavais baianos e cariocas, além dos blocos de rua, que comemoram sem se preocupar se estão incomodando.
É que, ao contrário do que se imagina, Carnaval não é exatamente uma hegemonia cultural no país. Nas redes sociais por exemplo, via internet, há várias comunidades dedicadas ao tema “Eu odeio carnaval”. Para quem não gosta da folia, assim como eu, uma boa alternativa, nos dias dos desfiles, é manter a TV desligada e a internet conectada. Ver filmes e colocar a leitura em dia também são opções a se considerar.
Não é que eu seja contra Carnaval. Não sou contra nenhuma expressão popular. No entanto, acredito que essa manifestação deveria ter espaços próprios, como uma forma de dar opções para quem gosta de participar. Somos obrigados a ter as nossas ruas tomadas por todo o fim de semana e o barulho que segue até a madrugada. O carnaval é uma comemoração pagã, dentre tantas outras que nós temos, o problema é que escolheram justamente a comemoração que faz o povo passar dos limites.
Até me lembrei de um rap do Pregador Luo, muito oportuno: "
O carnaval é a festa do povo,
Tem a ver com tradição,
Não tem nada de imoral,
Gringo vem porque gosta, não é turismo sexual,
Gente pelada é apenas um traço cultural.
- Claro que é!
O traço cultural de um povo extrovertido.
É muito educativo,
Principalmente pra sua filha e pro seu filho.
Cê num acha?
- Pô! Lógico que é! Fala a verdade!
Num é legal? Ô!
Aquele monte de gente bêbada, pelada,
Atropelando e sendo atropelada na estrada, uuh!
Chega o Carnaval e, com ele, a tristeza do palhaço que vê o circo pegar fogo. Fico surda aos tamborins, cega à desnudez das mulheres e de nariz tapado ao cheiro ácido do suor quente. Para mim, Carnaval é essa demência coletiva que satura os sentidos sem aplacar o desejo.
Mas, moralismo à parte, uma das grandes críticas daqueles que não curtem a folia é a falta de opções, seja na mídia ou nos espaços. A TV aberta é dominada por marchinhas repetitivas; os desfiles viram a noite. Nas ruas, em todo lugar, as pessoas estão escutando música de carnaval. Não gosto da falta de opções, que nos aprisiona. Em todos os cantos, na TV, na cidade, o tema predomina.
Seja como for, com “pés sadios” e boas idéias é sempre possível encontrar uma brecha no meio de tantas marchinhas e blocos, criando o seu estilo pessoal de “pular o carnaval”.
P.S.: Eu, apesar de toda aversão, vou trabalhar as cinco noites de folia, já que a Prefeitura para a qual presto assessoria é organizadora de um dos maiores carnavais de rua da região onde moro.