sexta-feira, 25 de outubro de 2013

Guerra dos Sexos

Enquanto o Brasil inteiro se engaja em campanha por um trânsito mais organizado e em paz, resolvo dar pitaco na discussão que é mais antiga – para não dizer velha, porque velha é a vovozinha – que minha Carteira Nacional de Habilitação. A atuação de homens e mulheres no trânsito é mesmo uma discussão sem fim.
Na eterna disputa entre os sexos, esse é sem dúvida um dos assuntos que mais vem à tona. De um lado os homens, afirmando que elas não sabem “pilotar” nada que não seja a pia de lavar louça ou o fogão. Do outro as mulheres, respondendo que são muito mais responsáveis do que eles na direção e que, se eventual falta de experiência delas pode vir a dificultar um pouco a condução de veículos, muito pior é o desempenho dos machões quando colocados para pilotar os eletrodomésticos. A verdade é que na ótica masculina, mulher é sempre barbeira.
Analisando os fatos, friamente, chego a conclusão que os homens têm um jeito mais ousado de dirigir. Por exemplo, numa ultrapassagem em um horário de grande movimento, ao visualizarem um espaço disponível entre os veículos da esquerda, onde caberia no máximo uma bicicleta, eles certamente vão avançar por ali. Pela lógica masculina, se entra uma bicicleta, também entra um carro, pois todos os veículos têm freios e o motorista de trás não vai querer bater em nada que amasse ou tire a cera de seu automóvel (amigo fiel e companheiro das estradas).
Já às mulheres, quando veem o espaço entre os carros, primeiramente analisam os riscos de entrar no meio deles, depois mentalizam todo processo que deverão empregar para proceder com segurança aquela operação de troca de pista. Lembram que se cometerem um erro, toda culpa será delas, pois no mundo machista em que vivem são sempre as culpadas. Calculam as probabilidades da necessidade de fazer aquilo e finalmente percebem que a brecha não existe mais e que deverão reiniciar todo processo. Ok, nem sempre é assim... eu mesma, as vezes acabo deixando o lado masculino, que todas nós temos, falar mais alto e avanço pra outra pista.
E é graças à prudência que as mulheres, no Brasil, são responsáveis por 30% dos acidentes de trânsito, contra os 70% dos homens. Com base nos dados estatísticos que apontam um envolvimento menor de mulheres em acidentes, algumas empresas de seguros de veículos até oferecem descontos quando o principal condutor especificado no plano for uma mulher. Em alguns casos, certas características chegam a render um desconto de 30% a 40% no valor do seguro. As estatísticas também mostram que para cada 10 mil mulheres, apenas 1,31 teve registro em acidentes fatais em 2012. Entre eles, o índice foi de 5,94. A explicação? Nós somos mais cautelosas e respeitamos mais as leis de trânsito.
Viram só como nessa briga de cães e gatas, as gatas acabam levando a melhor? Contamos com os dados a nosso favor. E nesse caso, contra argumentos, não há o que fazer. Ainda assim, se todos os argumentos não forem suficientes, aqui vai o mais forte deles: em último caso a culpa é sempre dos homens, que entregam a chave do carro na mão delas! Rsrsrs
Ok! Ok! Idealismos à parte, o trânsito foi projetado para todos nós, homens e mulheres, e somos todos responsáveis pelo que acontece nele. A violência e as barbaridades só vão parar de ocorrer quando entendermos que se todos colaborarem e agirem com responsabilidade, tudo fica mais fácil. Em 2013 já foram registradas 60 mil mortes no trânsito, mais do que causadas por homicídio ou doenças como câncer. Cerca de 40% das vítimas estavam em motocicletas. Também foi constatada de que uma das causas mais comuns dos acidentes de trânsito envolvendo motociclistas é a bebida alcoólica. Eu mesma já fui vítima de motociclista embriago e por sorte só tive danos materiais. Parece que imaginamos acontecer com todos, menos com a gente. Se não der ouvidos à prudência, um dia pode ser com você.

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Juramento de Jornalista

Juro (sem cruzar os dedos) ser um jornalista responsável e comprometido com a verdade.

Juro ouvir o outro lado. Mas só até o fechamento da edição.

Juro respeitar os valores aprendidos na faculdade, como não roubar no jogo de truco, nem chamar o adversário de “marreco”.

Juro não chorar se receber cinco pautas num mesmo dia.

Juro (cruzando os dedos) usar a carteira da Fenaj apenas nos eventos em que estiver a trabalho.

Juro honrar a tradição jornalística de comer porcaria em botecos de má reputação.

Juro não cobiçar a pauta alheia.

Juro não ficar contando piadinhas em velórios de gente famosa, com exceção do velório do Gilmar Mendes.

Juro não praticar jornalismo sensacionalista, a menos que a audiência esteja muito fraca.

Juro (cruzando os dedos das duas mãos) recusar todo tipo de jabá em coletivas de imprensa.

Juro não rasgar o meu diploma, apesar da vontade que vai me dar de vez em quando.

Juro encher de porrada o não-jornalista que falar mal da minha profissão.

Juro não esmorecer nos dias mais difíceis da carreira, que serão praticamente todos os dias.

Juro ser um jornalista etílico e, claro, ético também.

Juro que esta é a última vez que eu juro tanta coisa ao mesmo tempo. Ô, troço chato!


Essa veio o blog do Duda Rangel

sexta-feira, 17 de fevereiro de 2012

Carnaval, sim, mas longe da folia

Festa, alegria, descontração, fantasias absurdas, gente pelada, bebida à vontade. Carnaval é tudo isso e muito mais. Mas nem todo brasileiro tem esse espírito farrista. Existem aqueles que não compactuam com esse período e decidem burlar, de todas as formas, as tais “tradições carnavalescas” e aproveitar o feriado longe das folias e dos foliões.

Eles não são “doentes do pé” e nem “maus sujeitos”, como diria a célebre - e injusta - canção. Para muitas pessoas, fevereiro é sinônimo de um grande incômodo com a campanha massiva da mídia, que vende a todo momento os carnavais baianos e cariocas, além dos blocos de rua, que comemoram sem se preocupar se estão incomodando.

É que, ao contrário do que se imagina, Carnaval não é exatamente uma hegemonia cultural no país. Nas redes sociais por exemplo, via internet, há várias comunidades dedicadas ao tema “Eu odeio carnaval”. Para quem não gosta da folia, assim como eu, uma boa alternativa, nos dias dos desfiles, é manter a TV desligada e a internet conectada. Ver filmes e colocar a leitura em dia também são opções a se considerar.

Não é que eu seja contra Carnaval. Não sou contra nenhuma expressão popular. No entanto, acredito que essa manifestação deveria ter espaços próprios, como uma forma de dar opções para quem gosta de participar. Somos obrigados a ter as nossas ruas tomadas por todo o fim de semana e o barulho que segue até a madrugada. O carnaval é uma comemoração pagã, dentre tantas outras que nós temos, o problema é que escolheram justamente a comemoração que faz o povo passar dos limites.

Até me lembrei de um rap do Pregador Luo, muito oportuno: "

O carnaval é a festa do povo,
Tem a ver com tradição,
Não tem nada de imoral,
Gringo vem porque gosta, não é turismo sexual,
Gente pelada é apenas um traço cultural.

- Claro que é!
O traço cultural de um povo extrovertido.
É muito educativo,
Principalmente pra sua filha e pro seu filho.
Cê num acha?
- Pô! Lógico que é! Fala a verdade!
Num é legal? Ô!
Aquele monte de gente bêbada, pelada,
Atropelando e sendo atropelada na estrada, uuh!

Chega o Carnaval e, com ele, a tristeza do palhaço que vê o circo pegar fogo. Fico surda aos tamborins, cega à desnudez das mulheres e de nariz tapado ao cheiro ácido do suor quente. Para mim, Carnaval é essa demência coletiva que satura os sentidos sem aplacar o desejo.

Mas, moralismo à parte, uma das grandes críticas daqueles que não curtem a folia é a falta de opções, seja na mídia ou nos espaços. A TV aberta é dominada por marchinhas repetitivas; os desfiles viram a noite. Nas ruas, em todo lugar, as pessoas estão escutando música de carnaval. Não gosto da falta de opções, que nos aprisiona. Em todos os cantos, na TV, na cidade, o tema predomina.

Seja como for, com “pés sadios” e boas idéias é sempre possível encontrar uma brecha no meio de tantas marchinhas e blocos, criando o seu estilo pessoal de “pular o carnaval”.

P.S.: Eu, apesar de toda aversão, vou trabalhar as cinco noites de folia, já que a Prefeitura para a qual presto assessoria é organizadora de um dos maiores carnavais de rua da região onde moro.

quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

Um viva à iniciativa popular


A maioria dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) confirmou nesta quinta-feira (16) o entendimento de que a Lei Complementar 135/2010, a chamada Lei da Ficha Limpa, é compatível com a Constituição e, portanto, pode ser aplicada a partir das eleições municipais deste ano. O julgamento ainda está em curso e os ministros podem fazer reparos a respeito de detalhes da legislação antes do fim da sessão.

A principal inovação da lei é que é a inelegibilidade, por oito anos, de políticos condenados criminalmente por órgão colegiado, aquele em que mais de um juiz toma a decisão. Estarão sujeitos à Ficha Limpa as pessoas condenadas por crimes dolosos com penas acima de dois anos, improbidade administrativa, crimes eleitorais que resultem em prisão, entre outros.

A votação nesta quinta não teve mistério. Os dois primeiros ministros a votar – Ricardo Lewandowski e Carlos Ayres Britto – confirmaram a validade da lei, seguindo o que os colegas Luiz Fux, Joaquim Barbosa, Rosa Weber e Cármen Lúcia haviam feito na quarta-feira (15). Seus votos levaram o placar para 6 a 1 (José Antonio Dias Toffoli votou contra na quarta-feira), fechando a questão, uma vez que o Supremo é formado por 11 ministros. Ainda nesta quinta, votam Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Cezar Peluso.

A principal divergência entre os ministros se deu sobre a concorrência entre o grau de importância de dois princípios constitucionais: a exigência de moralidade na vida pública e o direito individual de ser considerado inocente até palavra final da Justiça. Lewandowski, que apresentou um voto rápido, mostrou convicção a respeito da igualdade dos dois princípios. “Nós estamos diante de uma ponderação de valores, temos dois valores de natureza constitucional de mesmo nivel”, disse o ministro. Para Lewandowski, ao criar a Lei da Ficha Limpa, o Congresso fez a opção legítima de aplicar o disposto constitucional que determina o zelo pela probidade administrativa e pela moralidade para exercício de mandato.

O ministro Celso de Mello fez um aparte e discordou da interpretação de Lewandowski, já que o item que diz que ninguém é considerado culpado até decisão definitiva da Justiça é, para ele, uma das garantias fundamentais previstas na Constituição. “Pode o Congresso, sob ponderação de valores, submeter garantias individuais? Um direito fundamental é marginalizado”, disse Mello.

Ayres Britto seguiu pela mesma argumentação de Lewandowski. Britto afirmou que a manutenção da garantia individual de se candidatar não pode se sobrepor ao interesse público de filtrar os bons candidatos. “Trata-se do direito que tem o eleitor de escolher pessoas sem esse passado caracterizado por um estilo de vida de namoro aberto com a delituosidade”, afirmou. “Essa lei é fruto do cansaço, da saturação do povo com os maus tratos infligidos à coisa pública”, disse. “Pode um político que já desfilou em toda a extensão do Código Penal ser candidato?”, questionou o ministro, lembrando que o representante do povo precisa ter reputação acima de qualquer suspeita.

Lei é fruto de iniciativa popular

A Lei da Ficha Limpa é de iniciativa popular e chegou ao Congresso após ser assinada por mais de 1,3 milhão de eleitores graças a uma mobilização de diversas organizações da sociedade civil. Modificada no Congresso, a lei foi aprovada em maio de 2010 e causou uma série de polêmicas envolvendo as eleições daquele ano. Em última instância, o STF decidiu que a lei não valia para o pleito de 2010. Nesta semana, o Supremo tomou sua decisão ao julgar três ações que tramitavam em conjunto. As ações do PPS e da Ordem dos Advogados do Brasil (OAB) pediam a constitucionalidade da lei, para evitar insegurança jurídica nas eleições, e a ação da Confederação Nacional das Profissões Liberais (CNPL) questionava um dos dispositivos da lei, que considera inelegível quem for excluído da profissão por decisão de conselho profissional.

domingo, 22 de janeiro de 2012

Apesar de você...

Tanto tempo sem postar uma única linha aqui. Não por falta de vontade. Cheguei a ensaiar algumas postagens. Até rascunhei artigos nesse período. Mas, há sempre uma ocupação maior que me impede de praticar o exercício que mais me dá prazer na vida: escrever, criar, dar vazão há algum dos meus muitos eus, literários ou não.

Todo início de ano as pessoas costumam fazer promessas, estabelecer metas, criar novos parâmetros que deverão cumprir, mas que raramente seguem. Durante 25 anos fiz isso. Mas, “um belo dia resolvi mudar”. Um início de ano sem planos pré-estabelecidos. Apenas um compromisso: trabalhar menos e me dedicar mais a leitura e a música.

Como gosto de pesquisar antes de me dedicar a qualquer atividade, resolvi me informar sobre a produção musical do momento. Vozes gritadas dentro de uma latinha de sardinha, letras vazias e sem nexo, acordes repetitivos. Por mais que eu procurasse, mais que isso não deu para encontrar. Isso sem falar em hits considerados grandes sucessos, mesmo quando não há sentido algum em ocuparem espaço em uma rádio como se fosse música.

Uma criatura que grita constantemente “Minha avó ta maluca, comprou uma peruca”. Um “ai, ai, se eu te pego”, que agora é encarado como produto de exportação. E o brasileiro comemora, estamos nas paradas européias. É que por aqui as pessoas abdicaram do direito de pensar, simplesmente seguem o som do berrante da engenharia sócio-comportamental. É mais cômodo. Pensar para que? Ter comportamento questionador para que?

E pensar que há poucas décadas, o Brasil era exportador cultural. Minha mãe viveu na época em que esse país ostentava uma geração de pensadores, escritores, compositores, filósofos. Eu vivo em meio a pessoas que acham graça de uma brasileira “gostosinha” que fez sucesso no Canadá e que repentinamente virou celebridade noticiada até no Jornal Nacional; de gente que perde horas assistindo um programa de TV que exibe pessoas como animais, dando vazão aos seus instintos mais primitivos; enfim vivo cercada por pessoas que aplaudem a cultura ao lixo. Como será a geração em que minhas filhas farão parte?

Quero acreditar que ainda há esperança para essa falta de interesse em exercitar o intelecto humano. Mas, dar fim a imbecialidade global que se espalha rapidamente pelo planeta não é algo assim tão simples. Até parece que Chico Buarque compôs para esse vírus que impede as pessoas de raciocinarem. “Hoje você é quem mana, falou, tá falado. Não tem discussão, não”. Mas, apesar de você, ignorância, amanhã será outro dia!

sábado, 6 de agosto de 2011

Trocadilos ao contrário

O que chamamos de "normalidade" é, na verdade, uma socialização imposta à base de repressões. Seu intuito é o de obtermos e perpetuarmos os benefícios - e neuroses - da continuação social. Podemos compará-la a uma religião, em que o progresso e o consórcio social ocupem o lugar do paraíso prometido - e a educação formal, uma conversão. Normal não é necessariamente natural, mas sim aquilo que está dentro das normas determinadas pela sociedade, sem desvios de comportamento em comparação com a maioria, que, aliás, mudo com o tempo. Se o que era loucura ou perversão ontem, hoje é extroversão, isto implica dizer que aqueles que hoje chamamos de loucos, poderão vir a ser nossos pioneiros amanhã.

Sem as convenções pré determinadas, como seria o ser humano? O que resultaria de um ser in natura? Sem a educação social, estaria submetido aos seus instintos. Como os ditos "loucos". Como somos seres de matilha, concordo que provavelmente construiríamos outra cultura com chefes e hierarquias a seguir. Mas neste momento inicial, sem a necessidade de seguir regras gramaticais ou racionais previamente acordadas pela sociedade, diria o que pensa, podendo dar maior vazão ao lado subjetivo de sua psiquê. Em última análise, não teria tantas neuroses, uma vez que não se submeteria aos conflitos oriundos da repressão indispensável para que formemos nosso "conteúdo", nosso "estilo", nossa "classe social", nossa "religião", nossa "família", nossa "maneira de pensar" - que se constitui basicamente de exclusões e negações, em geral selecionados por outros.

Isso me faz lembrar de Estamira Gomes de Souza, mulher negra da classe trabalhadora, catadora de lixo no Aterro do Gramacho (Rio de Janeiro) que nasceu ao contrário, no dia 27 de julho. Tinha 72 anos e morreu cansada, mal cuidada e principalmente: não ouvida (paradoxalmente tão escutada no mundo inteiro). A protagonista do filme que leva seu nome, dirigido por Marcos Prado e lançado em 2004 (que tive o privilégio, como inúmeros acadêmicos, de assistir no banco universitário) agonizou por horas no Hospital Miguel Couto, na Gávea, desassistida pelo SUS e incapaz – como a imensa maioria dos trabalhadores – de comprar sua assistência em um hospital particular.

Os "trocadilos" apontam que a razão de sua morte se chama 'septicemia', uma infecção generalizada. Poderiam dizer que por ter transtornos mentais, Estamira deveria ter sido assistida em um asilo, ou um hospital/hospício psiquiátrico para que de lá não saísse e morresse em paz, longe do lixo, das moscas, longe da família, longe daquele mar que lhe era tão importante. Do outro lado, os que acreditam cegamente nos governos, acreditam que a construção da rede de atenção psicossocial substitutiva à lógica manicomial está consolidada, amplificada e atuante. Não desconsideramos os avanços da instalação da rede, determinada pela lei 10216/2001. Mas, como Estamira nos alertou: existe esperteza ao contrário, não inocência.

De toda forma, Estamira passou sua vida em pé, trabalhando, replicando sua existência dentro dum lixão, desatenta aos levantes manicomiais de empresários-da-saúde-mental que discorrem trocadilos sobre técnicas arcaicas repaginadas, assistência integral, novos medicamentos, cuspindo cifras.. Alheia aos professores de Psicologia que passam o filme nas aulas e todos saem das salas com mal estar, surpresos, com pena. No ano que vem, uma nova turma assistirá sua história. Tudo bem: esta arte nos permite a distância, a contemplação, o não envolver-se e o não implicar-se.

Escutamos Estamira e observamos mais uma que sofre numa massa de trabalhadores negros, homens e mulheres que apodrecem todos os dias. Estamira é apenas mais uma entre os milhares de loucos da classe trabalhadora que já não valem mais nada ao sistema do capital e que por isto – e só por isto – são jogados no lixo para se confundirem ao inútil e ao descuido nos aterros e favelas do país.

O cinismo deste sistema traveste seu discurso delirante, denunciativo, agressivo e violento em “poesia”, “uma forma atípica de expressão”, “obra de arte”. Esta forma de arte não nos importa. Não queremos lembrar de Estamira apenas quando seu filme recebe mais um prêmio internacional. Acreditamos que não basta lamentar sua morte em cento e quarenta caracteres, num pio. Reivindicamos a vida e obra produzida ao longo dos dias de vida de Estamira. Com todos os seus direitos humanos negados, todos os serviços de saúde de má qualidade, sua péssima condição de moradia, seu trabalho precarizado, a educação negada. Seus e de todos os trabalhadores.

Não nos interessa a mera constatação de que algo vai errado. Interessa a luta pela efetividade da atenção à saúde mental no Brasil. Interessa a consolidação de equipes multidisplinares, a efetivação da Reforma Psiquiátrica, a redução de danos, a porta aberta nos equipamentos, a defesa intransigente de uma vida digna e sem desigualdade social para todos os trabalhadores. Lutando, honramos Estamira e todos os seus irmãos e companheiros desconhecidos, que nunca estrelarão um filme mas que também querem visitar o mar.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cavalgada Sertaneja: uma lição de respeito à diversidade Cultural































A 2ª Cavalgada Sertaneja se confirmou como grande sucesso regional. Considerada única no Mato Grosso, a festa, que ocorreu nos dias 23 e 24, comemorou o Dia da Família do Campo. Baile, café da manhã corporativo, missa, almoço, e 25 quilômetros de trajeto, fizeram parte do evento.
No sábado, 23, o baile de abertura da festa reuniu mais de quatro mil pessoas no Ginásio Poliesportivo de Nova Alvorada. O espaço passa por reformas pela primeira vez e foi preparado exclusivamente para a Cavalgada.
O ginásio vai receber o nome de Gercino Rodrigues de Souza. O baile contou com a presença do Secretário de Estado de Esportes, Antônio Azambuja, que destinou a emenda para a reforma. A animação da festa ficou por conta de Solano Dias, Luciano França e Banda Sux Full.
No domingo, 24, a programação começou cedo. Junto com o nascer do sol, os cavaleiros começaram a preparar seus animais. Antes da partida, um café da manhã comunitário, servido através das doações do que é produzido no campo. “Contamos com o apoio de muitos produtores, que não mediram esforços para nos ajudar não só no ato de servir o café, como em toda a realização da festa”, explicou o prefeito Marcelo Beduschi.
Depois do café, a missa, conduzida pelo Frei Airton, emocionou e encantou aos peões e a todos os que acompanharam a celebração. Os cavalos só partiram depois da benção especial, evocada pelo Frei.
Na estrada, que liga o Distrito de Nova Alvorada a Comodoro, mais de 300 animais, rigorosamente organizados, foram seguidos por motos e carros de quem, mesmo não montando, participou da festa. A comitiva Espora de Ouro, formada por produtores de Nova Alvorada, abriu o desfile do início ao fim.
Outras 18 comitivas seguiram a cavalgada. Nova Alvorada, além de ter a maior comitiva, Espora de Ouro, com quase 50 cavalos, contou ainda com a Pura Adrenalina, com outros 15 animais. Nois trupica mais não cai, Bala de Prata, Rochedo, Laço Mineiro, Terra Crua, Os Interverados, Novo Tempo, Comodoro, Santo Antônio do Cabixi (representando Macuquinho e Padronal pela primeira vez), Manda Rozeta, Caça Cachaça, Os que Sobra e As Bandida representaram as muitas glebas e a cidade de Comodoro. Além destes, grupos de Campos de Julio e de Nova Lacerda marcaram presença. Um grupo de Bacurizau, de Nova Lacerda, compareceu com bois de montaria, que marcharam a frente das comitivas.
No caminho, uma pausa para reabastecer a força dos cavaleiros. O almoço servido na Chácara Olho d’Água reuniu mais de 600 pessoas. E mesmo na hora da alimentação não faltou música. A dupla Rodrigo e Junior levou o público a dançar enquanto aguardava o retorno à estrada.
Em Comodoro, as comitivas percorreram todos os bairros, mostrando a força que vem o campo. Cerca de mais 10 quilômetros foram percorridos dentro do perímetro urbano, totalizando aproximados 25 quilômetros de trajeto total.
O desfile só terminou no Parque de Exposições, com o pronunciamento de agradecimentos do vereador José João Fernandes, representando a Câmara de Vereadores, e do prefeito Marcelo Beduschi, que cavalgou todo o trajeto, acompanhado pela primeira-dama, Ana Maria Fernandes Beduschi e pelos filhos. Ao terminar de falar, o prefeito fez questão de pegar na mãe de cada um dos cavaleiros, organizados em círculo, e agradecer pessoalmente a participação no evento.
A festa só terminou com o show de Ouro e Preto e Boiadeiro e de Cecília e Fernando. A Praça dos Pioneiros ficou pequena para o público, que dançou e cantou os sucessos sertanejos até as 23 horas.


Participar deste evento me fez ver que conhecer uma cultura divergente daquela em que fui ensinada não é tão difícil quanto me parecia. O conhecimento conduz ao respeito. E o respeito produz admiração. Isso é o que sinto hoje por Comodoro. Me orgulho por fazer parte desta cidade e ter a oportunidade de imprimir na comunidade a minha marca, e acrescentar aos meus conceitos, impressões tão fortes desse povo.