sábado, 6 de agosto de 2011

Trocadilos ao contrário

O que chamamos de "normalidade" é, na verdade, uma socialização imposta à base de repressões. Seu intuito é o de obtermos e perpetuarmos os benefícios - e neuroses - da continuação social. Podemos compará-la a uma religião, em que o progresso e o consórcio social ocupem o lugar do paraíso prometido - e a educação formal, uma conversão. Normal não é necessariamente natural, mas sim aquilo que está dentro das normas determinadas pela sociedade, sem desvios de comportamento em comparação com a maioria, que, aliás, mudo com o tempo. Se o que era loucura ou perversão ontem, hoje é extroversão, isto implica dizer que aqueles que hoje chamamos de loucos, poderão vir a ser nossos pioneiros amanhã.

Sem as convenções pré determinadas, como seria o ser humano? O que resultaria de um ser in natura? Sem a educação social, estaria submetido aos seus instintos. Como os ditos "loucos". Como somos seres de matilha, concordo que provavelmente construiríamos outra cultura com chefes e hierarquias a seguir. Mas neste momento inicial, sem a necessidade de seguir regras gramaticais ou racionais previamente acordadas pela sociedade, diria o que pensa, podendo dar maior vazão ao lado subjetivo de sua psiquê. Em última análise, não teria tantas neuroses, uma vez que não se submeteria aos conflitos oriundos da repressão indispensável para que formemos nosso "conteúdo", nosso "estilo", nossa "classe social", nossa "religião", nossa "família", nossa "maneira de pensar" - que se constitui basicamente de exclusões e negações, em geral selecionados por outros.

Isso me faz lembrar de Estamira Gomes de Souza, mulher negra da classe trabalhadora, catadora de lixo no Aterro do Gramacho (Rio de Janeiro) que nasceu ao contrário, no dia 27 de julho. Tinha 72 anos e morreu cansada, mal cuidada e principalmente: não ouvida (paradoxalmente tão escutada no mundo inteiro). A protagonista do filme que leva seu nome, dirigido por Marcos Prado e lançado em 2004 (que tive o privilégio, como inúmeros acadêmicos, de assistir no banco universitário) agonizou por horas no Hospital Miguel Couto, na Gávea, desassistida pelo SUS e incapaz – como a imensa maioria dos trabalhadores – de comprar sua assistência em um hospital particular.

Os "trocadilos" apontam que a razão de sua morte se chama 'septicemia', uma infecção generalizada. Poderiam dizer que por ter transtornos mentais, Estamira deveria ter sido assistida em um asilo, ou um hospital/hospício psiquiátrico para que de lá não saísse e morresse em paz, longe do lixo, das moscas, longe da família, longe daquele mar que lhe era tão importante. Do outro lado, os que acreditam cegamente nos governos, acreditam que a construção da rede de atenção psicossocial substitutiva à lógica manicomial está consolidada, amplificada e atuante. Não desconsideramos os avanços da instalação da rede, determinada pela lei 10216/2001. Mas, como Estamira nos alertou: existe esperteza ao contrário, não inocência.

De toda forma, Estamira passou sua vida em pé, trabalhando, replicando sua existência dentro dum lixão, desatenta aos levantes manicomiais de empresários-da-saúde-mental que discorrem trocadilos sobre técnicas arcaicas repaginadas, assistência integral, novos medicamentos, cuspindo cifras.. Alheia aos professores de Psicologia que passam o filme nas aulas e todos saem das salas com mal estar, surpresos, com pena. No ano que vem, uma nova turma assistirá sua história. Tudo bem: esta arte nos permite a distância, a contemplação, o não envolver-se e o não implicar-se.

Escutamos Estamira e observamos mais uma que sofre numa massa de trabalhadores negros, homens e mulheres que apodrecem todos os dias. Estamira é apenas mais uma entre os milhares de loucos da classe trabalhadora que já não valem mais nada ao sistema do capital e que por isto – e só por isto – são jogados no lixo para se confundirem ao inútil e ao descuido nos aterros e favelas do país.

O cinismo deste sistema traveste seu discurso delirante, denunciativo, agressivo e violento em “poesia”, “uma forma atípica de expressão”, “obra de arte”. Esta forma de arte não nos importa. Não queremos lembrar de Estamira apenas quando seu filme recebe mais um prêmio internacional. Acreditamos que não basta lamentar sua morte em cento e quarenta caracteres, num pio. Reivindicamos a vida e obra produzida ao longo dos dias de vida de Estamira. Com todos os seus direitos humanos negados, todos os serviços de saúde de má qualidade, sua péssima condição de moradia, seu trabalho precarizado, a educação negada. Seus e de todos os trabalhadores.

Não nos interessa a mera constatação de que algo vai errado. Interessa a luta pela efetividade da atenção à saúde mental no Brasil. Interessa a consolidação de equipes multidisplinares, a efetivação da Reforma Psiquiátrica, a redução de danos, a porta aberta nos equipamentos, a defesa intransigente de uma vida digna e sem desigualdade social para todos os trabalhadores. Lutando, honramos Estamira e todos os seus irmãos e companheiros desconhecidos, que nunca estrelarão um filme mas que também querem visitar o mar.

quinta-feira, 28 de julho de 2011

Cavalgada Sertaneja: uma lição de respeito à diversidade Cultural































A 2ª Cavalgada Sertaneja se confirmou como grande sucesso regional. Considerada única no Mato Grosso, a festa, que ocorreu nos dias 23 e 24, comemorou o Dia da Família do Campo. Baile, café da manhã corporativo, missa, almoço, e 25 quilômetros de trajeto, fizeram parte do evento.
No sábado, 23, o baile de abertura da festa reuniu mais de quatro mil pessoas no Ginásio Poliesportivo de Nova Alvorada. O espaço passa por reformas pela primeira vez e foi preparado exclusivamente para a Cavalgada.
O ginásio vai receber o nome de Gercino Rodrigues de Souza. O baile contou com a presença do Secretário de Estado de Esportes, Antônio Azambuja, que destinou a emenda para a reforma. A animação da festa ficou por conta de Solano Dias, Luciano França e Banda Sux Full.
No domingo, 24, a programação começou cedo. Junto com o nascer do sol, os cavaleiros começaram a preparar seus animais. Antes da partida, um café da manhã comunitário, servido através das doações do que é produzido no campo. “Contamos com o apoio de muitos produtores, que não mediram esforços para nos ajudar não só no ato de servir o café, como em toda a realização da festa”, explicou o prefeito Marcelo Beduschi.
Depois do café, a missa, conduzida pelo Frei Airton, emocionou e encantou aos peões e a todos os que acompanharam a celebração. Os cavalos só partiram depois da benção especial, evocada pelo Frei.
Na estrada, que liga o Distrito de Nova Alvorada a Comodoro, mais de 300 animais, rigorosamente organizados, foram seguidos por motos e carros de quem, mesmo não montando, participou da festa. A comitiva Espora de Ouro, formada por produtores de Nova Alvorada, abriu o desfile do início ao fim.
Outras 18 comitivas seguiram a cavalgada. Nova Alvorada, além de ter a maior comitiva, Espora de Ouro, com quase 50 cavalos, contou ainda com a Pura Adrenalina, com outros 15 animais. Nois trupica mais não cai, Bala de Prata, Rochedo, Laço Mineiro, Terra Crua, Os Interverados, Novo Tempo, Comodoro, Santo Antônio do Cabixi (representando Macuquinho e Padronal pela primeira vez), Manda Rozeta, Caça Cachaça, Os que Sobra e As Bandida representaram as muitas glebas e a cidade de Comodoro. Além destes, grupos de Campos de Julio e de Nova Lacerda marcaram presença. Um grupo de Bacurizau, de Nova Lacerda, compareceu com bois de montaria, que marcharam a frente das comitivas.
No caminho, uma pausa para reabastecer a força dos cavaleiros. O almoço servido na Chácara Olho d’Água reuniu mais de 600 pessoas. E mesmo na hora da alimentação não faltou música. A dupla Rodrigo e Junior levou o público a dançar enquanto aguardava o retorno à estrada.
Em Comodoro, as comitivas percorreram todos os bairros, mostrando a força que vem o campo. Cerca de mais 10 quilômetros foram percorridos dentro do perímetro urbano, totalizando aproximados 25 quilômetros de trajeto total.
O desfile só terminou no Parque de Exposições, com o pronunciamento de agradecimentos do vereador José João Fernandes, representando a Câmara de Vereadores, e do prefeito Marcelo Beduschi, que cavalgou todo o trajeto, acompanhado pela primeira-dama, Ana Maria Fernandes Beduschi e pelos filhos. Ao terminar de falar, o prefeito fez questão de pegar na mãe de cada um dos cavaleiros, organizados em círculo, e agradecer pessoalmente a participação no evento.
A festa só terminou com o show de Ouro e Preto e Boiadeiro e de Cecília e Fernando. A Praça dos Pioneiros ficou pequena para o público, que dançou e cantou os sucessos sertanejos até as 23 horas.


Participar deste evento me fez ver que conhecer uma cultura divergente daquela em que fui ensinada não é tão difícil quanto me parecia. O conhecimento conduz ao respeito. E o respeito produz admiração. Isso é o que sinto hoje por Comodoro. Me orgulho por fazer parte desta cidade e ter a oportunidade de imprimir na comunidade a minha marca, e acrescentar aos meus conceitos, impressões tão fortes desse povo.

sexta-feira, 15 de julho de 2011

Ligo ou não... ligo?

Em um dos meus dilemas existenciais me deparei, outro dia com a grande dúvida ligo ou não ligo?
Toda mulher que se preze já passou por esse dilema alguma vez na vida. Dilema de estar com muita vontade de ligar para ele e não poder. As histórias variam mas acabam sempre no mesmo lugar: o telefone.
Mulher adora um telefone (você não?), isso todo mundo sabe. E a maioria dos homens, detesta (ah, isso você também não sabia?).
Nesse meu dilema, acabei me deparando com o texto de um blog feminino, bastante interessante:

"Ao longo da vida tenho ouvido algumas histórias curiosas em relação a isso e resolvi compartilhar com vocês.

AMOR, TÔ COM SAUDADES!
Eles já namoram há mais de um ano. Eles se gostam, são felizes. Tem por volta de 25 a 35 anos. (Não, não estou contando a minha história, ainda, rs) Só tem um problema: ela liga o tempo todo pra ele. Liga e diz: amor, to com saudades. Ele responde de maneira educada: eu também. Ai daqui a 5 minutos ela liga de novo: ai amor, to com tanta saudade. Até que um dia ele se estressou: não me liga o tempo todo, por favor, assim não dá nem tempo de sentir saudade. Eu não gosto de falar no telefone. Para com essa mania. A menina desandou a chorar, claro. Ela liga uma vez pro celular, ele não atende. Ai ela liga pro telefone da sala, a mãe dele atende e diz que ele está no banheiro. Aí ela liga pro telefone da cozinha, a mãe já atende com raiva. Não satisfeita, ela liga novamente pro celular dele. Ai você deve estar pensando: nossa, ela tinha algo muito sério pra falar com ele, não é? Tinha sim: amor, to com tanta saudade....


NA CADEIRA DA DENTISTA
Hoje de manhã fui ao dentista. Estou lá sentada, com a boca aberta, sem poder falar, o que pra mim é uma tortura, vocês bem podem imaginar, quando a minha dentista começa a contar pra secretária sobre a sua festa de aniversário, sobre o namorado, sobre o candidato a namorado, sobre as respectivas sogras... até que ela fala: EU NÃO VOU MAIS LIGAR. Aquilo apitou na minha cabeça quase que como uma sirene do corpo de bombeiros. Parem as máquinas. Esta mulher tem 43 anos e ainda vive esse tipo de neura. E eu sem poder falar nada. Ai que agonia! Mas aí fiquei ouvindo e fui ficando cada vez mais impressionada. O problema não está na idade, nem na maturidade. Está no conflito de gêneros mesmo. Mulheres e homens falam línguas distintas e independente da época da sua vida vai ser sempre difícil entrarem em sintonia.

E eu achando que com o passar dos anos meus problemas estariam solucionados.. Tsc tsc tsc

Quando ia saindo não resisti e comentei: Nossa, fiquei meio impressionada com a sua história. Realmente não tem essa de idade para esse tipo de crise né?

Aí ela me responde: Não tem mesmo. Conheço uma senhora de 80 anos que se casou há alguns meses que estava passando pelo mesmo problema.

Depois dessa... só arrancando o fio da parede! rs"

Se depois dessa você ficou com vontade de ligar pra ele, ligue pra amiga, ligue a TV, ligue o chuveiro, ligue o videogame, ligue o que quiser, mas se ligue!!!!!

Ah! Quer saber se eu liguei? Não resisti...

domingo, 10 de julho de 2011

Nem só de pão vive o homem

Se eu tivesse fome e fosse obrigada a mendigar, não pedia apenas pão. Pediria pão e um livro. É uma questão de lógica que todos os homens tenham alimento, que comam. Melhor ainda se todos pudessem ter acesso ao saber. Bom mesmo seria se todo homem gozasse não só do prazer em alimentar seu corpo físico, a matéria, mas, também seu espírito carente de conhecimento.

Ouve-se, todos os dias, sob holofotes da mídia que direciona os olhos do mundo, falar em mudanças estruturais econômicas. Quando se argumenta em defesa das reivindicações para diminuir as desigualdades sociais, fala-se apenas em poder econômico, sem jamais ressaltar a democratização da cultura, aliás, o que a necessidade humana pede aos gritos. Gritante é essa desigualdade cultural, que transforma suas vítimas em máquinas a serviço do Estado, escravos da organização social onde estão inseridas.

É triste a cena de uma mão estendida à espera pelo pão que não vem. Mais triste ainda, é presenciar manifestações de indivíduos que desejam o saber, mas não o podem. A fome se aplaca com um pão, mas a sede de conhecimento só pode ser sanada diante de livros, muitos livros.

Fiódor Dostoiévski, líder político russo e um dos mestres da literatura universal, na ocasião de sua prisão em uma fortaleza na Sibéria, (onde passou 10 anos enclausurado, sendo obrigado a fazer trabalhos forçados, como lidar com a extração de minérios), fez um estranho pedido em carta a sua família. Seu pedido capta a essência da necessidade humana.

Em meio ao frio, o líder poderia ter pedido fogo para aquecê-lo, mas não o fez. Com sede, não pediu água. “Enviem-me livros, livros, muitos livros, para que minha alma não morra!”, foi o pedido de Dostoiévski.

O pedido de socorro do revolucionário russo era para que lhe abrissem horizontes, escadas para subir ao ápice do espírito e do coração. Ele já havia entendido, na época, o que anos depois o mundo ainda não compreendeu: o desconforto provocado por fome, sede, frio, dura pouco, mas a agonia de uma alma sedente perdura por toda a vida.

Cultura. Esse é o caminho para as mudanças tão almejadas e amplamente discutidas em diversas esferas sociais. Somente através dela pode-se encontrar os mecanismos capazes de solucionar as dificuldades que hoje assolam a humanidade.

domingo, 5 de junho de 2011

Índios em Rondônia

Sessão nostalgia



Ainda no google, encontrei o blog Voz Universitária, mantido por estudantes de jornalismo da Universidade Federal de Rondônia. Lá, estão algumas produções minhas. Ao reler os textos, uma estranha sensação tomou conta de mim. Saudades de quando sonhávamos em um dia "mudar o mundo".

04/12/2009

Sessão Produções

Boa Tarde internautas!
História, esquecimento, memória. Essas são algumas das palavras que podem ser atribuídas a reportagem confeccionada pela acadêmica Raquel Jacob, para a disciplina de Redação e Expressão Oral II, ministrada pelo profesor Sandro Colferai. A repórter foi a fundo investigar e mostrar como se encontrava o Museu Rondon, situado em Vilhena. Confira essa aventura recheada de personagens históricos. Boa leitura e boa descoberta!

História esquecida: Museu Rondon amarga abandono

Nos tempos em que se vive é impossível imaginar as dificuldades encontradas por Marechal Candido Mariano da Silva Rondon para cortar, de lado a lado a selva Amazônica, entre matas, rios, pantanais, com o ataque dos mosquitos, feras, índios selvagens, doenças como malária, beribéri e tantas coisas mais. Não queimava petróleo, todo o transporte era feito em lombo de bois e canoas. Foi assim que Rondon cortou milhares de quilômetros edificando meios de comunicação e demarcando as fronteiras brasileiras com os outros países vizinhos, além de muitos outros trabalhos muito importantes para o país.

A história é contada à reportagem por Damião Moreira Nunes, um ex-funcionário da empreiteira que construiu o prédio do 5º. Bec (Batalhão de Engenharia Civil). Ele, por ocasião da obra, ficou hospedado na Casa de Rondon, há 35 anos. “Lembro-me ainda que o Rondon para Papai era o personagem mais importante da nossa história.Trabalhou por mais de cinquenta anos construindo obras com verbas do governo federal e morreu pobre, mas com toda a honra que morre um herói”, afirma.

Damião conta que quando chegou em Vilhena, observou que era uma área de campo cerrado até atingir a borda da mata, um terreno bem plano e alto, mas sem água. A estrada que ligava o local onde se hospedaram ao 5º. Bec, que deu origem a um bairro da cidade, era precária. A estrada melhorou e um dia foi asfaltada.

O homem, de família pioneira, conta como foram destruídas as linhas telegráficas feitas por Rondon e refeitas por André Zonoecê . A primeira, as próprias máquinas de terraplanagem que abriram a BR-29, em muitos trechos, ao mesmo tempo, em que abriam a estrada, destruíam a linha telegráfica. Enquanto que a segunda, foi destruída pela nova colonização, pois a grande movimentação de agricultores que derrubavam as frentes dos lotes na margem da rodovia, para a formação de lavouras e pastagens, jogavam grandes árvores sobre a linha, que caía por terra.

“Além destes fatos, o descaso, a falta de interesse pelo bem público e até mesmo, de civismo da parte de muitas autoridades constituídas, pelas obras que representam ou demarcam a história de nossa pátria, é talvez a razão mais forte deste abandono e destruição de um empreendimento monumental, que representa uma das primeiras ações de integração nacional”, argumenta.

Damião, que mora hoje em São Paulo, esteve esta semana em Vilhena. “Ao chegar hoje, em companhia do meu filho Paulo César e do sobrinho Vicente Moreira, aqui na casa do Rondon, nesta ex-estação da linha telegráfica, esta histórica casa “abandonada” onde me acampei há 35 anos, durante uma semana de trabalho, outros pensamentos me ocorreram”, diz.

O terreno onde está localizada a referida casa fica ligada a uma outra área onde se situa-se os equipamentos de observação ou rastreamento do SIVAM (Sistema de Vigilância da Amazônia). Ele salienta a diferença entre vizinhos. “Quanto desenvolvimento, tecnologia e inovações separam os nossos dias, de tantas noites sofridas, em que Rondon, com tantos problemas para pensar e resolver, muitas vezes ao lado de tarimbas ou leitos onde permaneciam alguns dos seus melhores operários, atacados de malária ou outras enfermidades, sem meios de tratamento, olhava por entre as folhagens da selva que cobriam suas barracas ou acampamentos, com tanto entusiasmo e esperança este céu azul do seu país”.

Um céu onde o Cruzeiro do Sul brilhava tão intensamente, mas nunca podia lhe dizer que dormisse em paz, pois dai há alguns anos, um tal de SIVAM, com tanta precisão e facilidade, colheria de outros equipamentos espalhados por aquele céu, tantas informações e notícias que ele, Rondon lutava desesperadamente para abrir caminhos, estender fios por entre esta selva Amazônica para transmitir as informações que o Brasil e o mundo precisava saber.

Hoje, o Museu de Rondon encontra-se em completo abandono. As poucas máquinas e objetos que restaram dos constantes saqueamentos realizados no local, estão enferrujadas e se deteriorando. O telhado não mais protege contra a chuva, por conta dos inúmeros buracos. O caseiro que ainda cuidava da Casa, foi demitido no início do ano, em uma contenção de gastos realizada pela Prefeitura. A administração municipal também foi procurada para dar explicações. De acordo com o secretário municipal de Esportes e Cultura, Natal Pimenta Jacob, foi realizado um projeto de restauração da casa, no final de 2005. Mas até o presente momento, as arquitetações não saíram do papel.

Estudante quer revitalizar museu

Um estudante do quarto ano do curso de Design Gráfico da Universidade Tuiuti do Paraná, pretende apresentar como monografia de final de curso, um trabalho de revitalização do Museu Rondon.
De acordo com Cleber Anderson da Silva, estudante de Design Gráfico no sul do país, cuja infância foi toda transcorrida nos campos de cerrado do entorno de Vilhena, a ideia de transformar em trabalho monográfico a vida do Marechal Cândido Rondon, que passou pela região na década de 1910, se materializou quando começou a pesquisar sobre a vida do desbravador.

Com a pesquisa, o acadêmico descobriu a importância que esse brasileiro tem na história das comunicações no norte do Brasil, notadamente para Vilhena. Outra motivação para a empreitada seria o descaso com que as autoridades têm tratado a preservação do museu, suas peças e o prédio em si, onde originariamente funcionava o posto telegráfico, única forma de comunicação da época com o resto do país.

Além do mais, conta Cleber, em suas pesquisas para começar a montar a peça monográfica, descobriu que no Brasil não existe nenhum local específico, como em Vilhena, onde se pode ver peças, ferramentas e aparelhos usados para a transmissão via Código Morse do então telégrafo de Rondon. O estado lastimável das peças raras, bem como a situação de abandono em que se encontra o museu, disse o estudante, o levou a imaginar um trabalho que utilizasse o design gráfico não só como ferramenta estética, mas também que fosse capaz de transformar o descaso funcional com que tem sido tratado o Museu Rondon – um patrimônio da humanidade – em um local agradável para que futuras gerações possam tomar conhecimento da importância de Rondon para toda a região norte.

A proposta de Anderson é a reforma total do prédio, a recuperação física e estética das peças que compõem o museu, a confecção de catálogos e folders sobre a vida e a obra de Rondon, com ênfase para o período passado na região de Vilhena, bem como a disponibilização de todas essas informações na rede mundial de computadores.

Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.


03/12/2009

Personagens Amazônicas

Boa Tarde!

Fé, coragem e persistência. Esses são alguns dos adjetivos que podem ser atribuídos a Everaldo da Costa. O homem residente em um bairro periférico de Vilhena, segue todos os dias para sua luta: fazer cobranças de duas lojas. E para dificultar um pouco mais sua jornada diária, pedala uma bicicleta com uma só perna. Esse perfil foi confeccionado por Raquel Jacob Gonçalves para atender a disciplina de Técnica de Entrevista Jornalística, ministrada pela Professora Patrícia da veiga Borges, em 2008. Boa leitura e boa descoberta.

Uma só perna sobre duas rodas

(Por: Raquel Gonçalves Jacob)


Segunda-feira. Cinco horas da manhã e o sol ainda não acordou. As casas, as flores, as pessoas, todas dormem. Menos os trabalhadores que pedalam suas bicicletas para se dirigirem ao trabalho. São mais de uma centena de magrelas que carregam os funcionários do frigorífico, ainda sonolentos e cansados. Observando a movimentação pelo barulho que as rodas fazem ao deslizar no asfalto está Everaldo da Costa, 47 anos, cobrador de uma das mais antigas lojas da Avenida Melvin Jones, e morador aos fundos do estabelecimento há quatro anos. “Acordo todos os dias quando ouço as bicicletas passarem, em geral eles andam em silêncio porque ainda tão com sono, por isso dá pra ouvir o barulho das bicicletas que já são mais surradinhas e batem bastante o pára-lama e outras peças que tão meio soltas”.
Depois de ser acordado pelas bicicletas e fazer um momento “a sós com Deus”, quando lê a Bíblia e ora, Everaldo toma um café preto para despertar, já em companhia da família, que acorda cedo por causa das meninas que vão para a escola. “Às vezes o café é medroso, aí vem acompanhado com pão caseiro e margarina, mas tem dias que ele fica corajoso e por isso vem sozinho”, fala o homem com sorriso nos lábios e em uma das mãos um copo que antes servira para armazenar extrato de tomate, agora cheio de café. Com a outra mão ele abre o portão para que eu entre. A cozinha de madeira, com uma mesa e quatro cadeiras de parafusos bambos, uma geladeira caramelo, uma pia, um fogão pequeno e uma prateleira de madeira; na outra extremidade do cômodo, um sofá e uma estante pequena de madeira, já com o verniz descascando; a TV de 14 polegadas ligada com a imagem chuviscada que a antena interna consegue transmitir. O cenário dá a impressão de uma casa simples e com pouco conforto.
Enquanto tomava café, ele me convidou para com ele fazer uma oração e ler um trecho da Bíblia em Mateus, capítulo 6, versículos de 19 a 21: “Não ajunteis para vós tesouros na terra; onde a traça e a ferrugem os consomem, e onde os ladrões minam e roubam; mas ajuntai para vós tesouros no céu, onde nem a traça nem a ferrugem os consumem, e onde os ladrões não minam nem roubam. Porque onde estiver o teu tesouro, aí estará também o teu coração”. A leitura foi acompanhada pelos olhos atentos da esposa, Dona Marlene, de 39 anos, e as duas filhas de 13 e 11 anos. “Sabe, eu não me preocupo em ter riquezas, porque um dia eu vou embora e não vou levar nada, tudo isso vai ficar por aí”.
O homem religioso ao extremo é membro da Igreja Assembleia de Deus, também situada na Avenida Melvin Jones. Estatura mediana, cabelos castanhos e crespos, mantidos em corte baixo, tipo físico magro, bermuda de brim e camiseta de malha colorida. Seria a descrição de um homem comum, não fosse o fato de ele ter apenas uma perna (a outra ele perdeu na altura da coxa em um acidente que sofreu quando tinha 17 anos).
Ao terminar o café, ele se prepara e vai trabalhar. Everaldo é aposentado por invalidez, mas só com o salário mínimo não consegue sustentar a família. O casal trabalha na loja de confecções que fica na frente da casa, em uma mesma construção. A mulher é responsável pela limpeza e pelo atendimento na lojinha, enquanto ele faz as cobranças. Everaldo ainda presta serviços para outra loja, no centro da cidade, também como cobrador. “Tem dias que é difícil trabalhar porque tem gente que dá nó até em pingo d’água, entende? E aí não consigo receber nada”, afirma, ao explicar que ganha a comissão em porcentagem sobre o que consegue receber dos clientes. Em troca do trabalho, o casal recebe a casa dos fundos da loja para morar: dois quartos, sala e cozinha juntas, um banheiro e uma área de serviços.
Já na loja, o homem aguarda a chefe separar as notas que estão vencidas. Com os papéis em uma pasta, ele parte em busca do sustento da família. O trabalho é todo feito de bicicleta. Para subir no veículo, Everaldo encosta-o no meio fio e passa o toco de perna por cima do quadro até se aconchegar no banco da magrela. Assim que saímos, perguntei a ele como conseguia manter o equilíbrio. “É prática, ando de bicicleta desde os meus seis anos, quando eu ainda morava no sítio e andava mais de 20 Km para ajudar meu pai na lavoura. Quando perdi a perna, foi só uma questão de acostumar”, explica. O acidente que o fez perder a perna foi em uma estrada vicinal próximo de Araputanga, interior de Mato Grosso, onde viveu até seus 20 anos, quando se casou pela primeira vez. “Peguei uma carona com o carro do leite para ir até a cidade, que a gente morava no sítio, aí o carro bateu com um caminhão boiadeiro que tava vindo no sentido contrário, entende? Aí eu caí e fiquei desacordado. Quando voltei em si eu tava no hospital em Cuiabá e depois de três dias descobri que tinham amputado a minha perna, os médicos explicaram lá, mas eu não entendi muito, sei que foi Deus que quis assim”. A narrativa foi seguida por silêncio.
Três quadras depois: “o sol está quente hoje, né?”, eu tentava puxar assunto outra vez. Everaldo gosta de falar bastante, mas quando se entristece com algum assunto, se retrai e mantém-se trancado dentro de si. Aos poucos, ele volta a falar. Conta que depois do acidente não teve mais como trabalhar a terra, então teve que se mudar para a cidade, para a casa de um tio, afinal, precisaria do acompanhamento médico que não poderia ter no sítio. Depois que se recuperou, já trabalhou como vendedor ambulante de utensílios domésticos, como zelador, e agora trabalha há três anos como cobrador.
Foi na cidade que conheceu a ex-mulher, Maria de Lourdes, com quem viveu seis anos e teve um filho agora com 25 anos, o mecânico Paulo Silva da Costa, que ainda mora em Araputanga. Para eles, a vida era muito complicada por causa da dificuldade financeira. As necessidades iam desde moradia até alimentação e por isso resolveram se mudar para a região sul de Rondônia, fixando residência em Colorado do Oeste, onde a vida continuou difícil. “Até que um dia eu falei pra ela, ‘olha, eu te tirei da casa do seu pai onde você tinha as coisas pra te trazer pra essa vida de miséria, e isso não está certo’, peguei ela e o menino, levei de volta pra Araputanga e deixei lá na casa do pai dela. Falei que o dia que as coisas mudassem eu voltava pra buscar eles. Quanto voltei, depois de dois anos, ela já tava com outro”.
A decepção amorosa fez com que Everaldo vivesse por cinco anos apenas pensando na própria sobrevivência. O filho ele passou a ver a cada dois anos, e por agora, não o vê há 11 anos. “Eu tinha vontade de conhecer meu irmão. De vez em quando o pai liga pra ele e eu até já falei com ele no telefone uma vez, mas não é a mesma coisa”, fala a filha mais velha do segundo casamento. A mais nova se limita apenas a afirmar que queria mesmo ver como é o irmão.
Com o tempo, Everaldo conheceu seu Sérgio Adão, que também frequenta a igreja. A filha de Sérgio, Marlene, acabou se tornando a nova paixão de Everaldo. “Ah quando eu a vi pela primeira vez, gostei e depois de um tempo, como o pai dela fazia muito gosto e era muito meu amigo, a gente acabou casando, desta vez, de papel passado. Já tem 14 anos e é pra vida toda”.
A casa de Sérgio Adão, 73 anos, fica há duas quadradas de onde mora a filha. O casebre de madeira fica entre dois pontos comerciais e tem cinco cômodos e uma área. Com telhas de zinco, cerca de madeira e beijo-de-estudante plantados na frente, a casa representa a arquitetura de grande parte das moradias na Avenida Melvin Jones. Na sala, em um sofá de tecido azul surrado e poído, um senhor de cabelos brancos, bigodudo e de pequena estatura fala sem parar. Carioca, seu Sérgio, conta histórias de aventuras sem limites, algumas que incorporou de relatos ouvidos, dos quais ele se coloca sempre como o protagonista. “O Everaldo eu conheci quando trabalhou comigo numa firma. Gostei dele porque era muito esforçado, quando muitos que têm o problema que ele tem iriam querer viver às custas do governo. O rapaz começou a ir na igreja a meu convite e depois passou a freqüentar minha casa e se enamorou da minha filha mais nova. A menina gostou dele e os dois acabaram casando. Dizem que sogro e genro é tudo é birrento um com o outro mas a gente se dá bem, porque tem o temor e o amor de Deus no meio, né?”, conta o aposentado.
Acaba o trabalho matutino, o estômago aponta que é meio-dia, hora do almoço. Everaldo vai para a loja e, em seguida, para sua casa. Depois de almoçar arroz, feijão, quiabo comprado na feira da avenida e carne moída, ele descansa enquanto ouve os principais acontecimentos da cidade pelo rádio. Depois, o homem volta à sua rotina sob a bicicleta em seu malabarismo diário de equilibrar-se com apenas uma perna.
Aos finais de semana, sua distração é a igreja. Mas, como é segunda-feira, Everaldo volta para casa depois de um dia cansativo, de muitas cobranças e pouco dinheiro em caixa. A noite é para descansar. Ele assiste TV com a mulher e as filhas. “O programa que ele mais gosta é jornal, pode ser da Globo ou do SBT, tanto faz, aliás ele gosta dos dois e nem deixa a gente ver a novela”, reclama a mulher. Com pulso firme, ele retruca: “Novela não edifica, não trás nada de bom pra gente, o bom mesmo é ver o jornal e saber o que está acontecendo”.
Quando o atrativo da TV não prende mais a atenção, Everaldo vai dormir. Para recomeçar no dia seguinte, quando as bicicletas vão acordá-lo outra vez.

Obs: Esse é um trabalho acadêmico produzido em 2008 e não remete totalmente a realidade atual. Se for utilizar favor citar a fonte e a autoria.

Hoje, ao vasculhar o google encontrei essa entrevista que dei no ano passado, em maio. O texto foi publicado no blog do programa Fala Rondônia, da Rede TV! como forma de homenagem de meus caríssimos colegas pela ocasião do mês das mães. Interessante como somos mutantes. Hoje, um ano depois, acho que muito de mim já mudou.

quinta-feira, 6 de maio de 2010

UM POUCO MAIS DA NOSSA REPORTER RAQUEL GONÇALVES

COMO FOI A NOTICÍA DE SABER QUE ESTAVA GRAVIDA PELA SEGUNDA VEZ?

No primeiro instante chorei muito porque fiquei com medo, por mim e pelo bebê, já que minha primeira gestação tinha sido de risco. Eu não poderia ter mais filhos. Mas, depois entendi que aquele ser menor que um grão de feijão (era mais ou menos desse tamanho que ela era quando eu descobri a gravidez) era um milagre que nasceria. Eu engravidei usando dois métodos anticoncepcionais considerados bastante seguros, e se eu concebi diante de tanto cuidado, ela só podia vir com saúde e tranqüilidade. Então, eu me tranqüilizei e comecei tudo de novo. Eu não planejei minha gravidez, mas ela foi muito desejada.

COMO VC VÊ A IMPORTANCIA DA AMAMENTAÇÃO ?POIS A SUA PRIMEIRA FILHA VC AMAMENTOU POR VÁRIOS MESES NÉ?

A Ester mamou até um ano e um mês e só parei porque fiquei doente. A Sofia eu quero amamentar enquanto tiver saúde para isso. Para mim, a mulher que não amamenta não experimenta o sentido pleno da maternidade. A importância do aleitamento não está apenas no valor nutricional (até hoje nenhum laboratório conseguiu criar um alimento tão rico em nutrientes como o leite de uma mãe), é um momento mágico entre mãe e filho. Pensar que o meu sangue se transforma em alimento para minha filha me faz sentir uma mulher super poderosa. Existem muitos benefícios da amamentação comprovados cientificamente, mas para mim, nenhum é tão importante quanto o estreitamento dos laços maternais. Parece que cada vez que eu paro para dar de mamar estou amando um pouco mais. De tudo em ter bebês, quando minhas filhas crescerem, amamentar é o que eu vou sentir mais saudade.

Qual é a receita para conciliar o cargo de repórter, mãe de duas meninas de diferença mínima de idade e casamento ?

É claro que não é fácil. Em cada momento acabo priorizando uma função em razão de outra. Mas acho que todas nós mulheres nascemos com esse dom de saber assumir vários papeis na sociedade, ao mesmo tempo. Além disso, em casa conto com um suporte familiar sólido. Tenho a ajuda e a compreensão do meu esposo, principalmente quando trabalho em eventos especiais, em dias que a maioria das mães está em casa com suas famílias. Ele entende as abdicações que a minha profissão exige.

AGORA FALANDO UM POUCO DE VC COMO MULHER!!!

Você Quando está no trabalho, consegue se desligar totalmente da função de mãe? passa uma imagem de austeridade. Como é a Raquel como mulher?

Sou bastante centrada, e concentrada também, nas atividades que desenvolvo. Mas como qualquer outra mulher de carne e osso, não consigo fazer “aquela matéria” se estiver preocupada com uma das minhas filhas doente, por exemplo. É claro que busco separar as coisas, mas, dependendo da situação, o coração de mãe fala mais fala mais alto. Às vezes, também, dependendo da matéria, fico imaginando: “e se fossem minhas filhas, e se fosse eu”. Gosto dessa empatia para entender melhor as pessoas, porque só assim consigo transmitir a informação como deve ser e atinjo o mais importante: cresço como ser humano.

Como mulher sou exigente. Em casa e no trabalho. Os homens que convivem comigo no dia-a-dia que o digam - Gustavo, Pastor Carlos, Lucas e Anderson. Tenho TPM como a maioria das mulheres, gosto de ser paparicada sim, de que percebam quando mudo o corte do cabelo ou até mesmo quando faço uma produção a mais no visual. E apesar da imagem de seriedade que o trabalho exige (uma vez uma telespectadora que esteve na emissora para nos conhecer disse espantada “nossa, vocês brincam, eu imaginava vocês tão diferentes”), gosto de sentar todos os dias pela manhã para tomar café com meus colegas e jogar um pouco de conversa fora em nosso “momento besteirol”. A gente só encara a seriedade do dia depois de dar algumas risadas. Fora da televisão gosto de cantar, dançar, contar histórias para a Ester, ler e escrever (acho que algum dia quero ser escritora).

Acredita que, por ser casada, mãe de duas filhas, sua imagem intimida?

Acho que talvez isso influencie um pouco na imagem que as pessoas constroem a meu respeito. Apesar de serem dois mundos muito distintos as coisas se confundem. Até porque eu sou a repórter na TV, fora eu sou mesmo a mãe, a esposa, a dona de casa, a mulher, mas ainda assim sou eu (confuso né!). Minhas atitudes fora da imprensa refletem no meu trabalho também e isso de levar uma vida com seriedade faz com que meu trabalho também seja encarado com outro olhar: daí a intimidação em alguns casos.

Seu trabalho requer uma aparência impecável. Que cuidados tem normalmente?

Compro muitos cremes para a pele, mas não uso nenhum deles. Sou bem descuidada nesse aspecto. Tive a graça de nascer com a genética magra, cabelo liso, pele com oleosidade controlada e unhas alongadas. Uso sempre bons produtos no cabelo: shampoo, condicionador, máscaras de hidratação e fluído com proteção solar. Também gosto de lavar o cabelo no salão e fazer escova, sem muito exagero para não danificar os fios. Sou um pouco enjoada para maquiagem porque uso todos os dias e não dá para arriscar com produtos que podem prejudicar a pele.

Você se acha uma mulher bonita?

Depende do dia. Sou uma mulher de fases. Mas uma coisa é certa, não sou um mulherão de parar o trânsito como as minhas irmãs, por exemplo. Mesmo assim sou satisfeita com minha aparência, principalmente quando dizem que tenho carinha de 15 anos. Acho que sou normal e tenho todos os defeitos que qualquer mulher de verdade tem, assim como também tenho atributos que me são peculiares. Eu costumo dizer sempre que entre ser lembrada como uma mulher bonita ou uma mulher inteligente, eu prefiro a segunda opção. A beleza se transforma com os anos e por fim vai para debaixo da terra, mas, aquilo que fazemos e pensamos, pode ficar para a posteridade.

Como se imagina aos 50 anos?

Gordinhaaa!!!! (Meu sonho é algum dia ter um pneuzinho que seja na barriga). Quero envelhecer com saúde, mas quero ter rugas, cabelo branco, engordar (tudo na medida), ser avó coruja. Só não quero perder a vontade de fazer coisas novas todos os dias. Na adolescência eu dizia para minha mãe que eu não tinha nascido para ser dona de casa e mãe. E hoje posso não ser uma dona de casa muito dedicada, mas me supero como mãe. Talvez, a vida me reserve coisas que nunca me imaginei fazendo, mas quando elas vierem, vou encarar como tudo o mais na minha trajetória: vivendo um dia de cada vez.

Gosta de manter sua privacidade preservada?

Existem casos e casos. Há coisas que são para ficar apenas no seio familiar. Outras, não causam dano algum ao serem divulgadas. Eu gosto de compartilhar minhas experiências porque acredito que elas podem servir para alguém.

Vocês conheceram um pouquinho mais da nossa querida Raquel como mãe,mulher e reporter.Ninguém melhor para ser homenageada do que "Esta pequena notavel",como costumamos chamar ela aqui na Redetv.

Mas ela tem um grande talento e é uma grande reporter , não poderíamos deixar passar em branco e nós desejamos um feliz dia das mães á você, pelo seu carater e sua competencia

sábado, 16 de abril de 2011

Eu e as crianças




O menininho não conhecia a filmadora, então, resolvi ensina-lo como

se filma.


Ele tem tudo para ser um grande cineastra. Pelo menos, cenário para o filme não lhe falta!



Depois de preparar a chicha, as mulheres usam a massa da mandioca para preparar uma espécie de bolo que chamam de polvilho. Densa e um pouco ácida, a massa é servida com a caça assada. No ritual da menina moça, a índia entrega o bolo, com o animal assado encima, ao seu padrinho.

Tão meninas, tão mulheres, tão guerreiras

Semana dos Povos Indígenas - Nambikwara






Comi biju, polvilho, carne assada, só não tomei a chicha (ainda, porque vou tomar mais tarde durante o ritual)

Se engana quem encara os povos indígenas como seres inferiores. Diferentes? Talvez... Qual o padrão, afinal, do que é normal para a sociedade não indígena. Nornal é massacramos aqueles que estão a nossa volta, fazendo destes escada para atingirmos nossa meta? Normal é olharmos para o outro com olhar de condenação diante do mínimo escorregão, como se nós mesmos fossemos perfeitos e já tivéssemos atingido a excelência?

Como aprendo com os Nambikwara, que aliás, são tão normais quanto nós.


sexta-feira, 15 de abril de 2011

Preparativos da Festa da Menina Moça - Povos Nambikwara




As melheres Nambikwara preparam a chicha para a grande festa da Menina Moça. A bebida é feita com a mandioca brava (normalmente não é usada na alimentação, serve apenas para fazer a bebida).
A massa da mandioca também é aproveitada. O biju é servido com caça assada.
Eu pude registrar os preparativos para a festa que vai servir de comemoração ao Dia do Índio.
Respeito às muitas culturas existentes em nosso país é o primeiro passo para um país melhor!!!
DIA O ÍNDIO COMEMORADO COM A FESTA DA MENINA MOÇA ABERTA AO PÚBLICO
(Eu estarei lá)

A aldeia Davi, localizada a 20 km do perímetro urbano de Comodoro, será palco da maior festa da região em comemoração ao Dia do Índio.

As atividades serão abertas aos não índios e começam no sábado, 16, às 8 horas, com a abertura dos jogos indígenas. A competição só termina no domingo, às 15 horas, e será realizada na própria aldeia.

Mas, o que mais chama a atenção na programação é a Festa da Menina Moça, que também será aberta para a apreciação dos moradores da cidade que quiserem participar. O ritual tradicional entre os Nambikwara começou ontem quinta-feira, e se encerra com a grande festa pública, a partir das 16 horas do sábado, 16.

“Neste ano, decidimos fazer a festa na aldeia porque assim vamos valorizar a cultura dos povos indígenas em cada detalhe. Eles não terão uma festa ao estilo do não índio, pelo contrário, a festa é organizada por eles, do jeito deles, e nós damos apenas o suporte e seremos os participantes”, afirma a secretária de Educação e Cultura, Edilúcia de Freitas.

Na quinta-feira, a aldeia, povoada por 38 índios Sawantesu, sub-grupo dos Nambikwara, já contava com a presença de mais de 100 índios. Até o sábado serão pelo menos mil que virão das demais aldeias do município. Hoje Comodoro é considerado um dos municípios brasileiros maiores marcas da presença indígena. Além disso, 62% do território do município pertence aos povos Nambikwara.

OS PREPARATIVOS – Na quinta-feira durante a tarde, os moradores da aldeia Davi, em clima de festa, faziam os últimos preparativos para o início do ritual. Animais caçados por eles mesmos estavam já estavam assados e prontos para ser servidos com o biju, feito do polvilho da mandioca. As mulheres trabalhavam arduamente fazendo a Chicha, bebida típica à base do suco de mandioca fermentado, enquanto os homens preparavam as barracas para a festa e as crianças treinavam para os jogos de sábado.

Além da comida típica, preparada pelos próprios índios, a Semec também irá atuar em uma cozinha montada dentro da escola da aldeia, para atender a população que for prestigiar a festa.

“Nós temos o maior respeito e atenção por esse povo que compõe boa parte do nosso município e esperamos que a população prestigie o evento, que além de ser muito bonito, serve para promover a interação entre índios e não índios, moradores de Comodoro”, esclarece o prefeito Marcelo Beduschi, com quem os Nanmbikwara possuem relação de amizade.

O RITUAL – A festa da menina moça é uma tradição milenar, conforme explica o pajé Renê Sawantesu. “Não temos nada escrito, mas passamos de geração a geração através da fala, está tudo guardado na nossa mente e no nosso coração”, afirma. A tradição manda que quando uma menina inicia seu período mestrual, é levada para uma oca, onde permanece por um longo período. Na aldeia Davi, há três meninas que passaram pelo ritual. Há quatro meses elas recebem visita apenas das mulheres da aldeia, que lhes dão instruções para a vida. Passado o período, elas serão apresentadas aos demais da aldeia, agora como mulher. A cerimônia dura três dias.

Hoje, talvez mais do que quando compôs, Drummond expressa a realidade brasileira:



ACORDAR, VIVER

Carlos Drummond de Andrade

Como acordar sem sofrimento?
Recomeçar sem horror?
O sono transportou-me àquele
reino onde não existe vida

e eu quedo inerte sem paixão.
Como repetir, dia seguinte após dia
seguinte, a fábula inconclusa, suportar
a semelhança das coisas ásperas de
amanhã com as coisas ásperas de hoje?

Como proteger-me das feridas que rasga
em mim o acontecimento, qualquer
acontecimento que lembra a Terra e sua
púrpura demente?

E mais aquela ferida que me inflijo
a cada hora, algoz do inocente que não sou?
Ninguém responde, a vida é pétrea.

quinta-feira, 7 de abril de 2011

Meu lado Mulher

Todas nós, mulheres temos um lado homem e outro mulher. Talvez, esse lado homem se aflore mais que o lado mulher. Quem sabe, para disfarçar os dissabores e o peso em "ser mulher". Vemos a nós mesmas, não com os olhos femininos, mas impregnadas de conceitos e paradigmas de um mundo masculino. Na gerra dos sexos existente dentro de nós, qual dos lados tem sido mais bem alimentado? Qual se sobressai? Como bem disse Frei Betto, em reflexão publicada em Caros Amigos: "Meu lado mulher incomoda-se de receber homenagens num dia do ano - 8 de março -, enquanto meu lado homem se farta com 365 dias. Talvez se faça necessária esta efeméride, dor recente de uma cicatriz antiga. Porque vive-se numa sociedade machista: matrimônio - o cuidado do lar; patrimônio - o domínio dos bens. O marido possui a casa, o carro e a mulher, que incorpora ao nome dela o da família dele. A casa, ele exige que se limpe todo dia. O carro, envia à oficina ao menor defeito. À mulher, ser multifacetado, cabe o dever de cuidar de casa, dos filhos, das compras e do bom humor do marido, que nem sempre se lembra de cuidar dela. Meu lado mulher nunca viu o marido gritar com o carro, ameaça-lo ou agredi-lo. Nem sempre, entretanto, ela é tratada com o mesmo respeito. (...) Meu lado mulher tem pavor da violência doméstica; do pai que assedia a filha, jogando-a nas garras da prostituição; do patrão que exige préstimos sexuais da funcionária; do marido que ergue a mão para profamar o ser que deu à luz seus filhos. Diante da TV ou da banca de revistas, meu lado mulher estremece: haja degradação! Ela é a burra, a imbecil que rebola no fundo do palco, expõe-se na casa do brother, associa-se à publicidade de cervejas e carros, como um adereço a mais de consumo. Meu lado mulher tenta resistir ao implacável jogo da descontrução do feminino: tortura do corpo em academias de ginástica; anorexia para manter-se esbelta; vergonha das gorduras, das rugas e da velhice; entrega ao bisturi que amola a carne segundo o gosto da clientela do açougue virtual; o silicone a estufar protuberâncias. E manter a boca fechada, até que haja no mercado um chip transmissor automático de cultura e inteligência, a ser enxertado no cérebro. E engolir antidepressivos para tentar encobrir o buraco no espírito, vazio de sentido, idéias e utopia. Meu lado mulher esforça-se por livrar-se do modelo emancipatório que adota, como paradigma, meu lado homem. Serei ela se ousar não querer ser como ele. Sereia em mares nunca navegados, rumo ao continente feminino, onde as relações de gênero serão de alteridade, porque o diferente não se fará divergente. Aquilo que é só alcançará plenitude em interação com o seu contrário. Como ocorre em todo verdadeiro amor". E viva o Dia Internacional da Mulher!!!